domingo, 8 de dezembro de 2024

Violência policial e a banalidade do mal

Refletindo esses dias, percebi que é possível relacionar a violência policial com o conceito de banalidade do mal, cunhado por Hannah Arendt em seu livro Eichmann em Jerusalém. Arendt descreve como atos de grande violência podem ser perpetrados por indivíduos que, longe de serem sádicos ou monstruosos, agem de forma despersonalizada, obedecendo ordens e normas sem refletir criticamente sobre as consequências de suas ações.
No contexto da violência policial, algumas semelhanças podem ser traçadas:
Policiais podem justificar atos violentos como cumprimento de ordens superiores ou aplicação da lei, sem questionar a moralidade ou a justiça de suas ações. Isso ecoa o que Arendt observou em relação à aceitação passiva de diretrizes injustas.
A violência policial frequentemente atinge populações marginalizadas, como moradores de periferias, negros e pobres. O processo de desumanização dessas pessoas pode levar à indiferença quanto ao sofrimento infligido, facilitando atos violentos sem reflexão ética.
Em muitas corporações policiais, a violência se torna uma prática rotineira, reforçada por uma cultura institucional que normaliza ou banaliza comportamentos abusivos. Essa normalização pode levar os agentes a não perceberem a gravidade de seus atos.
A estrutura hierárquica das polícias e a falta de responsabilização podem desestimular a reflexão crítica, permitindo que os policiais executem ações violentas sem considerar alternativas ou ponderar os impactos éticos.
Essa conexão não busca justificar a violência policial, mas explicá-la como um fenômeno que, em muitos casos, resulta da reprodução de estruturas sistêmicas opressivas e de um ambiente onde a crítica e a empatia são suprimidas. Para superar essa banalidade, é crucial a promoção de reformas institucionais, a formação ética, o fortalecimento do controle externo e o combate à desumanização das populações vulneráveis.


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