sábado, 31 de agosto de 2024

Dia do Blog

Hoje dia 31 de agosto é celebrado mundialmente o dia do Blog. 
A data foi escolhida porque os números 3108 se assemelham à palavra "Blog" e criada para incentivar a troca de informações entre blogueiros de diferentes nichos e culturas, o Dia do Blog promove a divulgação de blogs novos, incentivando a diversidade de conteúdo na internet. Por isso, vim recomendar os ultimos blogs que acessei e considero interessantes, ajudando a aumentar a visibilidade de diferentes perspectivas e vozes na blogosfera. Essa tradição de compartilhar links com os leitores não só fortalece a comunidade de blogueiros, mas também ajuda a expandir o horizonte dos leitores, permitindo que descubram novos conteúdos e ideias, incentivando também a volta das pessoas para os Blogs.

Ultimos blogs que acessei:

Blog Casa das Palmeiras: “A Casa das Palmeiras é um pequeno território livre." Nise da Silveira. O blog conta com atividades expressivas como desenho, pintura, modelagem, tecelagem, tapeçaria, xilogravura, entre outros, feitos na casa Casa das Palmeiras, de Nise da Silveira, um espaço dedicado à reabilitação psiquiátrica, proporcionando um ambiente criativo e acolhedor.
Acesso: https://casadaspalmeiras.blogspot.com

Blog Caderno Aquariano: "Caderno Aquariano se propõe a edições nas áreas da Poesia, Astrologia, Psicologia, Filosofia, Artes e saberes afins..." O blog é de autoria de Martha Pires Ferreira, amiga pessoal de Nise da Silveira, astróloga e artista plástica. Estudiosa de Thomas Merton, Teilhard de Chardin e Nise da Silveira. Ela se descreve como amante da natureza e da música, eremita urbana que vive da palavra, do silêncio e do espaço, tempo, vazio, ponto, linha.
Acesso: https://cadernoaquariano.blogspot.com/?m=1

Breaking Bad e Kafka

A ligação entre Breaking Bad e A Metamorfose de Franz Kafka é sutil, mas significativa. 
A transformação de Walter ao longo da trama é fascinante, e a influência kafkiana é evidente, especialmente no episódio da mosca (episodio 10, da 3° temporada), intitulado "Fly". A série insere uma referência direta a Kafka através de Pinkman, que repete "Totallly Kafkaesque" mesmo sem entender o significado completo da expressão. 
Em A Metamorfose, Kafka narra a história de Gregor Samsa, um homem que se transforma repentinamente em um inseto gigante, perdendo sua humanidade à medida que a narrativa avança. Da mesma forma, Walter White, inicialmente um homem comum, vai se transformando em alguém irreconhecível, à medida que sua moralidade e humanidade se deterioram. O episódio da mosca em Breaking Bad simboliza esse processo de degradação e obsessão, refletindo a sensação de alienação e perda de controle que é central em A Metamorfose.

sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Filmes sobre arte: 18 dicas

Falando sobre cinema, hoje venho deixar aqui uma lista com 18 filmes sobre arte e um breve resumo.

• Nise: O Coração da Loucura (2016): Conta a história da psiquiatra Nise da Silveira, que revolucionou o tratamento psiquiátrico no Brasil na década de 1940 ao rejeitar métodos agressivos como eletrochoque, optando por terapias ocupacionais e pela arte como forma de expressão e cura.

• Josephine King: Selfish Bitch Female Artist (2012): Um documentário sobre a vida e a obra da artista contemporânea britânica Josephine King, conhecida por suas pinturas autobiográficas e por abordar temas como saúde mental e identidade feminina.

• Munch (1974): Um filme biográfico sobre o pintor norueguês Edvard Munch, famoso por obras como "O Grito". O filme explora sua vida, suas paixões e as dificuldades que enfrentou, revelando como suas experiências pessoais influenciaram sua arte.

• Modigliani (2004): Este drama biográfico retrata a vida do pintor e escultor italiano Amedeo Modigliani, focando em sua rivalidade com Pablo Picasso, seus problemas com álcool e drogas, e seu trágico romance com Jeanne Hébuterne.

• O Moinho e a Cruz (2011): Este filme é uma recriação da obra "A Procissão para o Calvário" do pintor flamengo Pieter Bruegel, misturando história, arte e drama para explorar a vida e a sociedade na Flandres do século XVI.

• Arca Russa (2002): Um experimento cinematográfico feito em um único plano-sequência, o filme leva o espectador por 300 anos da história russa, filmado inteiramente no Museu Hermitage, em São Petersburgo, misturando realidade e ficção.

• A Garota com Brinco de Pérola (2003): Baseado no livro de Tracy Chevalier, o filme é uma dramatização fictícia sobre a criação da famosa pintura de Johannes Vermeer, explorando a relação entre o pintor e a jovem servente que se tornou sua musa.

• Maudie (2016): Uma biografia da pintora canadense Maud Lewis, que, apesar de sofrer de artrite reumatoide severa, se tornou uma artista popular, conhecida por suas vibrantes pinturas de paisagens e animais, feitas em sua pequena casa na Nova Escócia.

• Poucas Cinzas (2008): O filme explora a juventude de Salvador Dalí, especialmente sua relação com o poeta Federico García Lorca, retratando o início de sua carreira artística e a tensão entre a amizade, o amor e a ambição.

• Magritte, O Dia e a Noite (2005): Um documentário que explora a vida e a obra do pintor surrealista belga René Magritte, conhecido por suas obras enigmáticas e por desafiar as percepções convencionais da realidade.

• Basquiat, Traços de uma Vida (1996): Este filme biográfico retrata a vida do artista americano Jean-Michel Basquiat, que começou como grafiteiro em Nova York e se tornou um dos mais importantes artistas contemporâneos, enfrentando o sucesso e o vício em drogas.

• Musa de Bonnard (2017): Um drama biográfico que narra a relação entre o pintor francês Pierre Bonnard e sua esposa e musa Marthe, explorando o impacto dela em sua vida e em sua arte.

• Maria, Não se Esqueça que Eu Venho dos Trópicos (2018): Um documentário sobre a vida e a obra da artista brasileira Maria Martins, que destacou-se no movimento surrealista e teve uma vida marcada por amores intensos e por sua luta para ser reconhecida no meio artístico.

• A Dama Dourada (2015): Baseado em fatos reais, o filme conta a história de Maria Altmann, uma mulher judia que tenta recuperar uma famosa pintura de Gustav Klimt, roubada de sua família pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.

• Nunca Deixe de Lembrar (2018): Um drama inspirado na vida do artista alemão Gerhard Richter, acompanhando sua trajetória desde a infância sob o regime nazista até se tornar um dos pintores mais importantes do pós-guerra.

• A Sombra de Caravaggio (2023): Um drama histórico que explora a vida conturbada do pintor italiano Michelangelo Merisi da Caravaggio, revelando suas lutas internas, seus conflitos com a Igreja e a intensidade de suas obras.

• Caçadores de Obras-Primas (2014): Baseado em uma história real, o filme segue um grupo de especialistas em arte que se unem para salvar obras de arte roubadas pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.

• Sombras de Goya (2006): Um drama histórico que se passa na Espanha do século XVIII, centrado em Francisco Goya, abordando suas obras e seu envolvimento com a política e os acontecimentos tumultuosos de sua época.

Arte e Inconsciente: breve reflexão

Para realizar uma análise mais prática do tema “Inconsciente e Arte”, focamos principalmente nas abordagens freudiana e junguiana, sendo Jung um discípulo importante de Freud. A concepção freudiana do inconsciente é caracterizada por uma estrutura linguística baseada em elementos específicos e determinações estruturais. Esse sistema é composto por conteúdos reprimidos, relacionados a desejos considerados "incompatíveis" com as normas sociais. 
Jung (2014) critica o paradigma freudiano, argumentando que ele se fundamenta nos princípios de repressão que surgem da educação e socialização, as quais ele vê apenas como componentes do inconsciente. Em contraste, Jung propõe que o inconsciente é uma dimensão que transcende as representações reprimidas. Ele afirma que o inconsciente abrange "todo o material psíquico que está por trás do limiar da consciência" (JUNG, 2014, p.15), manifestando seu próprio léxico simbólico. Assim, Jung vê o inconsciente como algo muito mais vasto: a mente consciente seria como uma ilha, enquanto o inconsciente seria um oceano.
Retornando à questão em análise, diversos estudos e iniciativas sugerem que a arte é um “produto” da mente inconsciente. 
Nise da Silveira (1981) foi pioneira no Brasil ao iniciar sua prática terapêutica por meio de um ateliê de arte dentro do Hospital Psiquiátrico Pedro II, localizado no Engenho de Dentro, bairro do Rio de Janeiro. Esse empreendimento envolveu uma longa trajetória de pesquisa acadêmica, resistência externa e determinação inabalável para estabelecer essa prática com os pacientes. Nesse contexto, a psiquiatra elucidou uma correlação significativa entre a expressão artística e as manifestações inconscientes, a arte esquizofrênica se revelou como um léxico simbólico da dinâmica inconsciente em ação.

Camus & café

“Deveria matar-me ou beber um café?”
A frase foi escrita algures entre 1913 e 1960 pelo filósofo francês Albert Camus.
Camus completa ao dizer: “No entanto, é preciso mais coragem para viver do que para morrer”. O suicídio era visto por ele como a solução natural para o absurdo. E o café simbolizava momentos de reflexão e socialização, frequentemente servindo como um cenário para discussões filosóficas e literárias, um lugar onde ele poderia contemplar a condição humana, absurdidade da vida e a busca por significado.
Camus era conhecido por sua rotina diária que incluía momentos no café, especialmente em Argel, sua cidade natal. Esses momentos não só alimentavam sua criatividade, mas também refletiam seu amor pela vida e pelas interações humanas. Assim, o café pode ser visto como um espaço que alimentava suas ideias e sua escrita, tornando-se um elemento significativo em sua vida e obra.

segunda-feira, 26 de agosto de 2024

Como começar a estudar arte?

Iniciar seus estudos em arte pode ser uma experiência enriquecedora e inspiradora. Aqui estão algumas sugestões para começar essa jornada:
Uma excelente maneira de se familiarizar com a arte é visitar museus e exposições, seja pessoalmente em sua cidade ou virtualmente, através de tours 360° oferecidos por algumas galerias. Ao observar obras de diferentes artistas e estilos, você começará a compreender a evolução da arte.
Livros como "A História da Arte", de E. H. Gombrich, são ótimos pontos de partida, pois fornecem uma visão abrangente da arte ocidental. Plataformas como Coursera, Khan Academy e YouTube oferecem cursos gratuitos e documentários sobre arte, que podem ajudar a visualizar e entender melhor os conceitos artísticos.
Se você tiver interesse, inscrever-se em aulas locais de arte ou workshops pode ser uma excelente oportunidade para aprender técnicas práticas, como desenho, pintura e escultura.
Pesquise sobre os diversos movimentos artísticos, como o Renascimento, Impressionismo e Modernismo, e explore a vida e a obra de artistas que mais lhe atraem.
Desenvolver o hábito de analisar e criticar obras de arte é essencial. Pergunte-se sobre os elementos visuais, a técnica, a mensagem e o contexto histórico de cada obra.
Considerar participar de grupos de estudo, fóruns online ou clubes de arte também pode ser valioso. Discutir arte com outras pessoas pode ampliar sua perspectiva e aprofundar seu entendimento.
Por fim, experimente diferentes técnicas e estilos para desenvolver uma apreciação mais profunda pelo processo artístico e pela expressão criativa. Escolha o caminho que mais lhe atrai e comece essa viagem fascinante pelo mundo da arte!

sábado, 24 de agosto de 2024

O brasileiro "Chão de Caquinhos"

Eu sou apaixonada por "casa com cara de casa", arquitetura brasileira, casa de vó, sabe?! Outro diz usei cacos de piso pra enfeitar o jardim, e me veio a curiosidade, de onde surgiu essa técnica? 
Eu já tinha ouvido falar da origem, mas não me lembrava muito bem. Eis o resultado da pesquisa.
O chão feito com cacos de piso, também conhecido como piso de caquinhos ou mosaico de caquinhos, tem raízes na prática do mosaico, que remonta à antiguidade. 
O mosaico é uma técnica artística milenar utilizada por civilizações como os gregos, romanos e bizantinos para criar imagens e padrões complexos a partir de pequenos pedaços de vidro, cerâmica, pedras e outros materiais. 
No Brasil, o uso de cacos de piso para revestimento de chão começou a se popularizar durante o século XX, especialmente nas décadas de 1940 e 1950, quando a escassez de materiais de construção durante e após a Segunda Guerra Mundial fez com que as pessoas adotassem métodos mais econômicos e criativos para decorar suas casas. A reutilização de sobras de pisos e azulejos quebrados para revestir pisos e paredes se tornou uma solução prática e acessível, além de permitir a criação de padrões decorativos únicos.
Esses pisos de caquinhos são mais comuns em áreas externas, como quintais, jardins e calçadas, e ainda são bastante utilizados em muitas regiões do Brasil, tanto pela estética quanto pela sustentabilidade do reaproveitamento de materiais.

sexta-feira, 23 de agosto de 2024

Foucault fez uma análise famosa da pintura "As Meninas" de Diego Velázquez.

Em "As Palavras e as Coisas" (1966), Foucault faz uma análise famosa da pintura "As Meninas" de Diego Velázquez. Ele usa a obra para explorar questões de representação, poder e visibilidade. Para Foucault, a pintura reflete uma complexa relação entre o observador e o observado, questionando as noções tradicionais de representação artística.

Essa análise serve como uma introdução ao seu estudo sobre as relações entre linguagem, conhecimento e poder ao longo da história.
As Meninas" é uma obra complexa que retrata a Infanta Margarita, filha do rei Filipe IV da Espanha, cercada por suas damas de companhia, um anão, um cão e outros personagens da corte, incluindo o próprio Velázquez, que aparece à esquerda, pintando em uma tela. 
Foucault destaca o jogo de olhares que permeia a pintura. A obra captura um momento em que as figuras retratadas parecem interagir não apenas entre si, mas também com algo fora da tela. Velázquez olha diretamente para fora da pintura, em direção a um ponto que o espectador não pode ver. O espelho ao fundo da sala reflete o rei e a rainha, sugerindo que eles estão posicionados onde estaria o espectador, criando uma situação ambígua: eles são observadores ou parte da cena?
Essa ambiguidade leva Foucault a questionar as relações entre o sujeito e o objeto, o observador e o observado. Ele propõe que a pintura não apenas representa uma cena, mas também desafia as categorias tradicionais de representação, revelando o poder que o ato de olhar e ser olhado carrega. O quadro coloca o espectador em uma posição instável, onde as fronteiras entre o que está dentro e fora da pintura são confusas.

Foucault utiliza "As Meninas" como uma metáfora para explorar como a representação, tanto na arte quanto na linguagem, molda nossa compreensão do mundo. Ele sugere que a pintura de Velázquez revela uma crise na maneira como a realidade era representada na época. Esse momento de crise reflete uma transição na episteme, ou estrutura de pensamento, do Renascimento para a era clássica, em que as certezas sobre o mundo e as categorias que o organizam começam a se dissolver.

A pintura não é apenas uma obra de arte, é um ponto de reflexão filosófica que Foucault utiliza para desafiar e ampliar nossa compreensão de como o conhecimento e a visão são construídos e de como eles moldam nossa realidade.

terça-feira, 20 de agosto de 2024

Nise da Silveira: arte, filosofia e literatura

Nise da Silveira foi uma figura extraordinária, cuja vida e trabalho deixaram um legado profundo na interseção entre psiquiatria, arte, filosofia e literatura. Nascida em 1905, em Maceió, Nise foi uma das primeiras mulheres a se formar em medicina no Brasil, e sua abordagem revolucionária ao tratamento de pessoas com transtornos mentais marcou uma virada na psiquiatria, especialmente em relação ao uso de arte como terapia. Nise via a arte como uma linguagem essencial da alma humana. Para ela, a expressão artística era uma forma de revelar o inconsciente e um caminho para a cura. Ela rejeitou os tratamentos tradicionais, como eletrochoque e lobotomia, e em vez disso, criou o ateliê de pintura no Hospital Pedro II, no Rio de Janeiro, onde os pacientes podiam expressar seus sentimentos e pensamentos por meio da arte. As obras produzidas pelos pacientes não eram vistas como meros produtos de mentes perturbadas, mas como manifestações genuínas da psique humana, cheias de significado e valor. Nise acreditava que a arte tinha o poder de curar e transformar, sendo uma forma de comunicação profunda entre o mundo interno e externo.

Nise tinha uma forte conexão com a filosofia, especialmente com o pensamento de Baruch Spinoza. Nise da Silveira escreveu um livro intitulado Cartas a Spinoza, uma coleção de sete cartas nas quais ela se dirige ao filósofo holandês Baruch Spinoza como seu mestre, refletindo sobre a importância de sua obra científica e filosófica como fundamento para o trabalho que desenvolvia no hospital psiquiátrico. Spinoza entende o afeto, derivado do verbo "afetar", como aquilo que nos move, nos toca e mexe com nossa alma. Esses afetos podem ter qualquer natureza e são únicos em cada indivíduo, existindo no espaço da nossa subjetividade. 

O que Nise e Spinoza nos ensinam é que muitas vezes a percepção dos nossos afetos é negligenciada, já que vivemos em um mundo que supervaloriza a racionalidade. Será que tudo o que me é ofertado, tudo o que consumo, de bens a relações, me afeta positivamente? Ou será que, de alguma forma, até mesmo meus afetos estão condicionados e me vejo obrigado a sentir? Compreender isso exige tempo e um olhar profundo para dentro de nós mesmos, mas parece ser um exercício essencial, pois é a capacidade de afetar e ser afetado que nos torna verdadeiramente humanos.

Nise era uma leitora ávida e tinha uma profunda apreciação pela literatura. 

Ela via os livros como portais para novas ideias, culturas e maneiras de ver o mundo. Sua biblioteca pessoal era vasta e variada, refletindo seu interesse por diferentes áreas do conhecimento. Além da filosofia, Nise tinha um forte apreço pela literatura clássica e moderna, usando-a como fonte de inspiração e reflexão em seu trabalho. Ela acreditava que os livros podiam abrir caminhos para o entendimento das complexidades humanas, tanto na saúde mental quanto na vida em geral.

A biblioteca de Nise da Silveira ocupava a sala e os dois quartos do apartamento acima daquele em que ela vivia. A cuidadosa seleção das centenas de livros contrastava com a simplicidade das estantes, feitas de tábuas de madeira apoiadas sobre tijolos. Entre os volumes, havia obras de literatura, artes plásticas e filosofia, além de recortes de jornais, catálogos de exposições, as obras completas de Antonin Artaud, Machado de Assis, Freud e C. G. Jung. Também estavam presentes livros de medicina, epistemologia, religião e até uma prateleira dedicada exclusivamente a livros sobre gatos. Dentre todas as prateleiras dessa rica biblioteca, a mais valiosa era aquela que abrigava livros sobre diversas correntes teóricas, focadas nos estudos sobre a expressão plástica, especialmente de pessoas em tratamento psiquiátrico. Para facilitar o trabalho de futuros pesquisadores, Nise da Silveira criou uma lista comentada desses livros, a qual intitulou: “Pequeno fichário relativo a obras sobre expressão plástica de psicóticos e algumas dicas para o benedito”.

Nise da Silveira foi, portanto, uma verdadeira intelectual, que uniu arte, filosofia e literatura em sua prática profissional e em sua vida pessoal, sempre buscando formas mais humanas e compreensivas de entender e tratar o sofrimento humano. 

Exposição Nise da Silveira: A Revolução pelo Afeto. Tour 360

A exposição apresenta aproximadamente 90 obras de clientes do Museu de Imagens do Inconsciente, incluindo trabalhos de Carlos Pertuis, Adelina Gomes, Emygdio de Barros e Fernando Diniz, além de peças de Lygia Clark e Zé Carlos Garcia. Também são exibidas fotografias de Alice Brill, Rogério Reis e Rafael Bqueer, vídeos de Leon Hirszman e Tiago Sant’Ana, e aquarelas e fotografias de Carlos Vergara. Com curadoria do Estúdio M’Baraká, a mostra destaca a dimensão inovadora e criativa de Nise da Silveira, uma das mais renomadas cientistas do Brasil, reconhecida mundialmente.

A exposição conta com tour virtual: https://nisenoccbb.ccbb.com.br/tours-virtuais/


domingo, 18 de agosto de 2024

Filosofia & Cinema

Taxi Driver: Um Marco Histórico e Cinematográfico.

Lançado em 1976, Taxi Driver é o quinto longa-metragem de Martin Scorsese e frequentemente aparece em listas das cem maiores obras cinematográficas de todos os tempos. O filme tem uma capacidade singular de dialogar com o contexto histórico, político, econômico e social dos EUA da década de 1970.
Marc Ferro, importante historiador francês, afirma que todo filme, seja ficção ou documentário, é uma fonte histórica que revela aspectos da sociedade que o produziu. Nesse sentido, Taxi Driver é um prato cheio.
Travis Bickle, o protagonista, personifica alguns dos dramas e sentimentos da população estadunidense da época. Dois pontos são fundamentais: o trauma da Guerra do Vietnã e o desinteresse pela política. Travis é um ex-combatente do Vietnã, o que não é explicitamente informado através de diálogos, mas sim pela composição visual do personagem: o casaco, o corte de cabelo moicano, as armas, incluindo a faca amarrada à bota, são referências, confirmadas pelo próprio Scorsese em entrevistas, ao Vietnã. 
O desinteresse pela política, exemplificado pela relação de Travis com Betsy, reflete um sentimento nacional logo após o Caso Watergate. Taxi Driver materializa, em seu personagem principal, os dramas e sentimentos que atravessavam a sociedade estadunidense na época de seu lançamento.
Além disso, o filme aborda os preconceitos aflorados no período pós-década de 1960 e retrata a profunda crise que a cidade de Nova York enfrentava na década de 1970. A cidade estava praticamente falida, com a crise do petróleo durante a era Nixon afetando profundamente sua economia.
Taxi Driver é, assim, um retrato poderoso e perturbador de uma época conturbada, refletindo a angústia e a alienação de um indivíduo e de uma sociedade em crise.
A Pele Que Habito: Uma Análise da Narrativa e das Teorias de Gênero.

Lançado em 2011, A Pele que Habito é o décimo oitavo longa-metragem de Pedro Almodóvar. O filme conta a história de um renomado cirurgião plástico que se dedica à pesquisa de uma pele humana artificial. Estruturalmente, a trama é dividida em quatro partes: a primeira, situada em 2012, em Toledo, considerada o presente, a segunda, ocorrendo seis anos antes, em 2006, a terceira, ainda em 2006, mas algumas semanas depois da segunda parte, e a última, que retorna ao presente. Essa estratégia de mudanças temporais, comum nas obras de Almodóvar, permite ao espectador acessar fragmentos dos personagens e da história, situando-nos sobre a trama de maneira única e característica do diretor.
Um aspecto relevante a ser destacado é a aproximação da narrativa de A Pele que Habito com as teorias de Judith Butler, especialmente no que diz respeito à relação entre corpo, gênero e sexualidade. Judith Butler, filósofa estadunidense nascida em 1956, tornou-se uma das principais pensadoras nos estudos sobre gênero. O debate sobre gênero, empreendido por Butler, perpassa pela filosofia da linguagem performativa, especialmente pela obra de John Austin, que propôs um debate acerca da linguagem que compreende a palavra não apenas como uma forma de designar coisas e objetos, mas também como uma maneira de realizar ações. Os verbos, por exemplo, são constantemente utilizados para designar ações. Judith Butler, ao abordar questões de gênero, utiliza essa filosofia para pensar a linguagem como uma performance, entendendo a linguagem enquanto um modo de realizar ações.
Desde cedo, segundo Butler, somos forçados a nos identificar com o gênero correspondente ao sexo, aprendendo a vivenciá-lo por meio de gestos, roupas, comportamentos, etc. Esse aprendizado ocorre por meio de regras implícitas, e, para Butler, o gênero não possui uma referência biológica, mas é formado a partir dos atos performativos que realizamos em nossas práticas. Gênero é definido por ela como um "conjunto de atos repetidos no interior de uma estrutura reguladora altamente rígida". A performatividade de gênero, então, corresponde à repetição contínua das normas de gênero.
Ou seja, para Butler, a noção de gênero não é algo natural, mas uma construção cultural e histórica. Essas discussões aparecem claramente nos filmes de Almodóvar, incluindo A Pele que Habito. 
Podemos observar essa abordagem nas cenas em que Robert empreende esforços para que Vicente/Vera apresente uma coerência entre o gênero que performatiza e seu novo corpo. Isso ocorre, por exemplo, quando ele "presenteia" Vicente/Vera com vestidos e itens de maquiagem. Além disso, nos momentos em que Vicente vivencia o feminino como performance de gênero para manipular Robert, essa concepção de gênero como performance torna-se ainda mais evidente.

sábado, 17 de agosto de 2024

Disertatio Filosofia: Série de Livros Eletrônicos do Departamento de Filosofia da UFPEL

#Dica 

Hoje trago uma dica imperdível para quem gosta de ler sobre filosofia, e o melhor: de forma totalmente gratuita.

A Série Dissertatio Filosofia é uma coleção de livros eletrônicos oferecida pelo Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Criada em 2014, essa iniciativa faz parte do Núcleo de Ensino e Pesquisa em Filosofia (NEPFIL), cujo objetivo é editar e publicar, em formato digital, as obras produzidas no Curso de Graduação, Mestrado e Doutorado em Filosofia da UFPel, além de trabalhos de outras instituições.

Atualmente, os livros são publicados com os selos da Editora da UFPel e da Série Dissertatio Filosofia, e estão disponíveis para download gratuito.

SÉRIE DISSERTATIO FILOSOFIA

A Série Dissertatio Filosofia busca publicar obras de alta qualidade, escritas por professores e pesquisadores cujo trabalho é amplamente reconhecido pela excelência na argumentação filosófica. Esta série está vinculada à Revista Dissertatio de Filosofia, uma publicação quadrimestral do Departamento de Filosofia do Instituto de Filosofia, Sociologia e Política da UFPel.

SÉRIE INVESTIGAÇÃO FILOSÓFICA

A Série Investigação Filosófica, fruto de uma parceria entre o NEPFIL/UFPel e o GPIF/UNIFAP, se dedica à tradução de textos filosóficos selecionados de plataformas internacionalmente reconhecidas, disponibilizando-os em língua portuguesa.

Link de acesso: https://wp.ufpel.edu.br/nepfil/


sexta-feira, 16 de agosto de 2024

Dia do Filósofo: Celebrando a Busca pelo Conhecimento

Hoje, dia 16 de agosto, celebramos o Dia do Filósofo. Esta data foi instituída para homenagear aqueles que se dedicam à reflexão profunda sobre a existência, a ética, o conhecimento e a verdade. A origem dessa celebração está vinculada à importância histórica e cultural da filosofia, que desde a Grécia Antiga molda o pensamento humano e a forma como compreendemos o mundo.
Neste dia especial, gostaria de gradecer a todos que contribuíram para despertar meu interesse pela filosofia, professores, amigos e, claro, os próprios filósofos cujas obras lemos e discutimos. 
Hoje, celebramos não apenas os grandes nomes que marcaram a história, mas também todos aqueles que, de alguma forma, contribuem para a propagação e aprofundamento do pensamento filosófico.

Aproveito para compartilhar com vocês alguns filósofos pouco conhecidos, mas cujas contribuições são inestimáveis:

Hypatia de Alexandria (370-415 d.C.) – Uma das primeiras mulheres filósofas, Hypatia foi uma matemática e astrônoma que liderou a Escola Neoplatônica de Alexandria. Seu trabalho e trágica morte simbolizam a luta pelo conhecimento em tempos de obscurantismo.

Elisabeth of Bohemia (1618-1680) – Correspondente de René Descartes, Elisabeth é conhecida por suas incisivas críticas e questionamentos ao dualismo cartesiano, trazendo uma perspectiva crítica e feminina ao debate filosófico do século XVII.

Frantz Fanon (1925-1961) – Filósofo e psiquiatra martinicano, Fanon explorou temas como colonialismo, racismo e descolonização. Sua obra, como "Pele Negra, Máscaras Brancas", é fundamental para entender as dinâmicas de poder e opressão.

Simone Weil (1909-1943) – Filósofa e mística francesa, Weil escreveu sobre a condição humana, a espiritualidade e a ética do trabalho. Seu pensamento é uma ponte entre a filosofia, a política e a religião.
Maurice Merleau-Ponty (1908-1961) – Embora menos conhecido que seus contemporâneos Sartre e Camus, Merleau-Ponty trouxe contribuições valiosas para a fenomenologia, especialmente em relação ao corpo e à percepção.
É uma ótima data para explorar obras de filósofos menos conhecidos ou revisitar clássicos sob uma nova perspectiva, que esse dia seja uma oportunidade para renovar nosso compromisso com a busca pelo conhecimento, a reflexão crítica e a valorização do pensamento. 
A filosofia é uma jornada contínua de perguntas e descobertas, e não apenas nos ajuda a entender o mundo, mas também a transformá-lo.  

A Teologia da Prosperidade: Fé ou Mercantilização da Religião?

Nos últimos anos, a teologia da prosperidade tem ganhado espaço em igrejas neopentecostais, prometendo sucesso financeiro e saúde como recom...